Link Pensante

quarta-feira, agosto 25, 2010

Deus é estranho!

Essa afirmação por si só já pode colocar uma pessoa no rol dos hereges e sem devoção. Mas arrisco reafirmar, realmente estranho. Parece que a cada ação, e pasmem, eu acredito que Deus se move, Ele faz, quase que de propósito, o contrário do que nós esperamos. Justamente o oposto de nossas convicções.

Nós, absorvidos pelas nossas próprias verdades ou pela nossa “larga” experiência (o ser humano consegue viver até por volta de um século comparada a eternidade de Deus), sempre elegemos verdades e modus operantis para tudo o quê nos cerca.

Seja a maneira certa de se relacionar com os outros, seja na forma que conduzimos nossa própria vida ou na forma como temos que compreender o próprio Deus, paira ao nosso redor, em meio a traços poéticos e verdades filosóficas, entre a experiência vivida por alguns e a elucubração teórica de outros, uma consciência coletiva, uma fôrma pela qual somos atraídos e forçados a seguir, quando não julgados se nos opomos a ela.

Talvez a minha veia ecumênica, outro bom motivo pra ser herege, tenha aflorado nos últimos tempos. Talvez minhas experiências passadas vividas entre padres e vocacionados católicos, entre pensadores livres e ortodoxos, entre evangélicos das mais diversas tendências, entre líderes “carnais” e “espirituais” tenha me deixado mais acessível e menos intransigente as opiniões dos outros. Não digo isso como alguém que já se livrou completamente de suas próprias verdades absolutas (e por isso mesmo carrancudas), isso é impossível, mas sim como alguém que não consegue mais ver os outros, por mais que me pareçam errados, como oposicionistas.

Não me conformo quando sou julgado segundo minhas crenças e convicções, mas também não me reconforto quando aqueles que pensam diferente se encontram em becos sem saída. Parece paradoxal, mas me sinto mal quando uma idéia, mesmo que antagônica não mereça a oportunidade da discussão, da conversa.

Nesse ponto é exatamente que entre a primeira frase. Deus é estranho. Se fora de sua vontade ele poderia ter criado uma humanidade homogênea em tudo. Seria lindo ver essa multidão, todos juntos pensando da mesma forma e caminhando numa mesma direção. Porém nós não somos assim. Somos heterogêneos no pensar, na forma, no gênero e nas opções. Parece que realmente, se depender de nós, estamos fadados ao caos absoluto. Mas é exatamente que o paradoxo divino, aos meus olhos, parece brilhante. É justamente nesse instante que vejo de forma diferente o sentido de ter sido criado, de viver e de caminhar nesse mundo independente das vicissitudes ou virtudes da vida.

Apesar de muitos discordarem, para mim, foi justamente pra isso que fomos criados: Para sermos diferentes. Não somos uma legião de bonecos iguais em tudo. Somos o esplendor do paradoxo, a coroa sobre a cabeça do Caos que nos leva a um sem número de possibilidades e direções. Não há mal em sermos diferentes, mas em não nos incluirmos na grande roda da vida. Somos sedentos por experiências e aprendizados. Não adianta pensar em nós mesmos como uma trupe bem treinada que interage sem percalços. Somos a beleza heterogênea de toda a criação, através de nosso pensamento somos a visualização teórica das infinitas possibilidades da própria criação.

Nesse ponto então posso dizer: Deus é estranho, paradoxal e belo.